quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Consolo na Praia - Carlos Drummond


Vamos, não chores…
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento…
Dorme, meu filho.


Carlos Drummond de Andrade

Um comentário:

Batom e poesias disse...

Drummond é mesmo de matar.
Tão atual que é como se escrevess agora, para mim.
É para ter esperanças ou para desistir?
Dormir...

bjs
Rossana