domingo, 31 de dezembro de 2017
domingo, 24 de dezembro de 2017
Poema de Natal - Vinicius de Moraes
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos.
Por isso temos braços
longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Vinicius de Moraes
Livro "Antologia Poética", Rio de Janeiro, 1960.
quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
Sonhos de uma noite de verão - Shakespeare
Há quem diga que
todas as noites são de sonhos.
Mas há também quem diga nem todas,
só as de verão... mas no fundo
isso não tem muita importância.
O que interessa mesmo não são as noites em si,
São os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre.
Em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.
"Sonhos de uma noite de verão"
Peça de William Shakespeare
domingo, 17 de dezembro de 2017
A mulher que passa - Vinicius de Moraes
Meu Deus,
eu quero a mulher que passa.
Seu dorso frio
é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Oh! Como és linda,
mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites,
dentro dos dias!
Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pelos são relva boa
Teus pelos são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.
Meu Deus,
eu quero a mulher que passa!
Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me encontravas se te perdias?
Por que não voltas, mulher que passas?Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida
Para o que sofro não ser desgraça?
Meu Deus,
eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!
No santo nome do teu martírio
Do teu martírio que nunca cessa
Meu Deus, eu quero, quero depressa
A minha amada mulher que passa!
Que fica e passa, que pacífica
Que é tanto pura como devassa
Que boia leve como cortiça
E tem raízes como a fumaça.
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