terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Gosto quando te calas - Neruda

Gosto quando te calas porque estás como ausente, e me ouves de longe, minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado e parece que um beijo te fechara a boca.
Como todas as coisas estão cheias da minha alma emerge das coisas, cheia da minha alma.

Borboleta de sonho, pareces com minha alma, e te pareces com a palavra melancolia.
Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.

E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.
Deixa-me que te fale também com o teu silêncio claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.


Pablo Neruda

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