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sábado, 10 de outubro de 2020

Soneto da perdida esperança - Carlos Drummond

Perdi o bonde e a esperança.

Volto pálido para casa.

A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo.

Vou subir a ladeira lenta 
em que os caminhos se fundem.
 
Todos eles conduzem ao princípio 
do drama e da flora.

Não sei se estou sofrendo ou se 
é alguém que se diverte por que não?
na noite escassa com um insolúvel flautim.
 
Entretanto há muito tempo
nós gritamos: sim! ao eterno. 

Carlos Drummond

sábado, 3 de outubro de 2020

A noite dissolve os homens - Carlos Drummond

A noite desceu. Que noite! 
Já não enxergo meus irmãos.
E nem tampouco os rumores 
que outrora me perturbavam 

A noite desceu. 
Nas casas, nas ruas onde se combate,
nos campos desfalecidos. 
A noite espalhou o medo
e a total incompreensão. 

A noite caiu. 
Tremenda, Sem esperança... 
Os suspiros acusam a presença negra 
que paralisa os guerreiros. 

E o amor não abre caminho na noite. 
a noite é mortal, completa,
sem reticências, 
a noite dissolve os homens,
diz que á inútil sofrer,
a noite dissolve as pátrias,
apagou os almirantes cintilantes
nas ruas fardas. 

A noite anoiteceu tudo... 
O mundo não tem remédio... 
Os suicidas tinham razão. 

Carlos Drummond de Andrade

sábado, 5 de setembro de 2020

Hino Nacional - Carlos Drummond

Precisamos descobrir o Brasil! 

Escondido atrás das florestas, 
com a água dos rios no meio, 
o Brasil está dormindo, coitado. 

Precisamos colonizar o Brasil. 
o que faremos importando Francesas 
muito louras, de pele macia, 
Alemãs gordas, russas nostálgicas para 
garçonetes dos restaurantes noturnos. 

E virão sírias fidelíssimas. 
Não convém desprezar as Japonesas..., 
precisamos educar o Brasil. 

Compraremos professores e livros, 
assimilaremos finas culturas, 
abriremos dancings
e subvencionaremos as elites. 

Cada brasileiro terá sua casa 
com fogão e aquecedor elétricos, piscina, 
salão para conferências científicas. 

E cuidaremos do Estado Técnico. 
Precisamos louvar o Brasil. 
Não é só um país sem igual. 

Nossas revoluções são bem maiores 
do que quaisquer outras; nossos erros também. 
E nossas virtudes?
A terra das sublimes paixões... 
os Amazonas inenarráveis...
os incríveis João Pessoas... 

Precisamos adorar o Brasil! 

Se bem que seja difícil caber
tanto oceano e tanta solidão 
no pobre coração já cheio de compromissos... 
se bem que seja difícil compreender
o que querem esses homens, 
por que motivo eles se ajuntaram
e qual a razão de seus sofrimentos. 

Precisamos, precisamos esquecer o Brasil! 

Tão majestoso, tão sem limites, tão despropositado, 
ele quer repousar de nossos terríveis carinhos. 

O Brasil não nos quer! Está farto de nós! 

Nosso Brasil é no outro mundo.
Este não é o Brasil. 
Nenhum Brasil existe.
E acaso existirão os brasileiros? 

Carlos Drummond, 1934, Brejo das almas
Poesia extremamente melancólica
e muito adequada aos nossos tempos !

sábado, 15 de agosto de 2020

Residuo - Carlos Drummond de Andrade

De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. 
Da rosa ficou um pouco.
Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.

Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).

Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato se cobriu. 
Ficaram poucas roupas, 
poucos véus rotos
pouco, pouco, muito pouco.
mas de tudo fica um pouco.

Da ponte bombardeada,
de duas folhas de grama,
do maço vazio de cigarros,
ficou um pouco.
pois de tudo fica um pouco.

Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
de teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.
Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa, retrato.

Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? 
no trem que leva ao norte, 
no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?

Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.
De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil…
De tudo ficou um pouco:
de mim; de ti; de Abelardo.

Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver… de aspirina.
De tudo ficou um pouco.
E de tudo fica um pouco.

Oh abre os vidros 
de loção e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.
Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate
e sob as bibliotecas, os asilos,
as igrejas triunfantes
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.

Às vezes um botão.
Às vezes um rato.

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 12 de junho de 2020

O Amor é grande - Carlos Drummond

O mundo 
é grande e cabe 
nesta janela sobre o mar. 

O mar 
é grande e cabe 
na cama e no colchão de amar. 

O amor 
é grande e cabe 
no breve espaço de beijar.

Carlos Drummond de Andrade

domingo, 28 de janeiro de 2018

No meio do Caminho - Carlos Drummond

No meio do caminho
tinha uma pedra,
tinha uma pedra
no meio do caminho,
tinha uma pedra, 
no meio do caminho 
tinha uma pedra. 

Nunca esquecerei
desse acontecimento 
na vida de minhas retinas
tão fatigadas.

Nunca me esquecerei 
que no meio do caminho 
tinha uma pedra,
tinha uma pedra
no meio do caminho, 
no meio do caminho
tinha uma pedra.

Carlos Drummond de Andrade
Sempre teremos pedras em nosso caminho... 
Cuidemos sempre dos nossos caminhos !

domingo, 9 de julho de 2017

Carlos Drummond de Andrade

Poeta, contista e cronista mineiro 
(1902-1987).

Considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa e da literatura latino-americana.

Nasce e passa a infância numa fazenda em Itabira.

Estuda em Belo Horizonte e em Nova Friburgo (RJ).

Forma-se em Farmácia (1925) em Ouro Preto, mas não exerce a profissão.

Volta a Belo Horizonte, onde frequenta as rodas de escritores.

Integra o grupo que funda A Revista, publicação literária de tendência nacionalista que se torna o veículo mais importante do modernismo mineiro.

Em 1926, entra para o jornalismo no Diário de Minas.

Lança o primeiro livro, Alguma Poesia, em 1930 e, quatro anos depois, assume a chefia de gabinete do Ministério da Educação no Rio de Janeiro. Permanece no serviço público até a aposentadoria.

Ligado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) no início dos anos 40, escreve poesias de fundo social, como Sentimento do Mundo (1940) e A Rosa do Povo (1945). Mas a indignação pelas desigualdades sociais não lhe tira o profundo lirismo, o senso de humor e a emoção contida.

A partir de Claro Enigma (1951), volta a registrar o vazio da vida humana e o absurdo do mundo.

Em 1954 passa a escrever crônicas no Correio da Manhã e, em 1969, no Jornal do Brasil. Entre suas obras estão Lição de Coisas (1962), Os Dias Lindos (crônicas, 1978) e Boca de Luar (crônicas, 1984). (Dados extraídos do Almanaque Abril Cultural 1997)

"Entre as diversas formas de mendicância , a mais humilhante é a do amor implorado."

"Existem muitos motivos para não se amar uma pessoa, mas apenas um para amá-la."

"Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo"

"Se procurar bem, você acaba encontrando não a explicação (duvidosa) da vida, mas a poesia (inexplicável) da vida."

"O problema não é inventar. É ser inventado hora após hora e nunca ficar pronta nossa edição convincente."

"Eu nunca tive pretensões a nada na vida, nunca pretendi ser rico ou poderoso e nem mesmo feliz. Na medida do possível, acho que vivi uma vida tranquila. Posso ter errado muitas vezes, mas valeu a pena. Foi bom."

Carlos Drummond de Andrade

sábado, 24 de junho de 2017

Quadrilha - Carlos Drummond


João amava Teresa 
que amava Raimundo
que amava Maria 
que amava Joaquim 
que amava Lili
que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos,
Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre,
Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se
e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 14 de março de 2017

Amor é bicho instruído - Carlos Drummond

Amor é bicho instruído
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.

Pronto, o amor se estrepou.

Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Reverência ao Destino - Carlos Drumonnd

Falar é completamente fácil, quando se têm palavras em mente que expressem sua opinião.

Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.

Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias.

Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros,ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.

Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir.

Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E com confiança no que diz.

Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação.

Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer. Ou ter coragem pra fazer.

Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado.

Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende. E é assim que perdemos pessoas especiais.

Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.

Difícil é mentir para o nosso coração.

Fácil é ver o que queremos enxergar

Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto. Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.

Fácil é dizer "oi" ou "como vai?".

Difícil é dizer "adeus". Principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...

Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.

Difícil é sentir a energia que é transmitidan aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.

Fácil é querer ser amado.

Difícil é amar completamente só. Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar. E aprender a dar valor somente a quem te ama.

Fácil é ouvir a música que toca.

Difícil é ouvir a sua consciência. Acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.

Fácil é ditar regras.

Difícil é seguí-las. Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.

Fácil é perguntar o que deseja saber.

Difícil é estar preparado para escutar esta resposta. Ou querer entender a resposta.

Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.

Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.

Fácil é dar um beijo.

Difícil é entregar a alma. Sinceramente, por inteiro.

Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.

Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.

Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica.

Difícil é ocupar o coração de alguém. Saber que se é realmente amado.

Fácil é sonhar todas as noites.

Difícil é lutar por um sonho.

Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade,que se petrifica,e nenhuma força jamais o resgata.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Soneto do Pássaro - Carlos Drummond

Amar um passarinho é coisa louca.
Gira livre na longa azul gaiola que o peito me constringe, enquanto a pouca liberdade de amar logo se evola.

É amor meação? pecúlio? esmola?
Uma necessidade urgente e rouca de no amor nos amarmos se desola em cada beijo que não sai da boca.

O passarinho baixa a nosso alcance, e na queda submissa um voo segue, e prossegue sem asas, pura ausência, outro romance ocluso no romance.

Por mais que amor transite ou que se negue, é canto(não é ave) sua essência.


Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

As sem razões do amor - Carlos Drummond


Eu te amo porque te amo.

Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo. 

Eu te amo porque te amo. 

Amor é estado de graça 
e com amor não se paga. 

Amor é dado de graça, 
é semeado no vento, 
na cachoeira, no elipse. 

Amor foge a dicionários 
e a regulamentos vários. 

Eu te amo porque não amo 
bastante ou demais a mim. 

Porque amor não se troca, 
não se conjuga nem se ama. 

Porque amor é amor a nada, 
feliz e forte em si mesmo. 

Amor é primo da morte, 
e da morte vencedor, 
por mais que o matem (e matam) 
a cada instante de amor. 


Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Poema da Purificação - Carlos Drummond

Depois de tantos combates

o anjo bom matou o anjo mau

e jogou seu corpo no rio.

As água ficaram tintas

de um sangue que não descorava

e os peixes todos morreram.

Mas uma luz que ninguém soube

dizer de onde tinha vindo

apareceu para clarear o mundo,

e outro anjo pensou a ferida

do anjo batalhador.


Carlos Drummond de Andrade

San Miguel Arcangel

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Poemas de Dezembro - Carlos Drummond

Procuro uma alegria
uma mala vazia
do final de ano
e eis que tenho na mão
- flor do cotidiano -
é vôo de um pássaro
é uma canção.
(Dezembro de 1968)

Uma vez mais se constrói
a aérea casa da esperança
nela reluzem alfaias
de sonho e de amor: aliança.
(Dezembro de 1973)

Fazer da areia, terra e água uma canção
Depois, moldar de vento a flauta
que há de espalhar esta canção
Por fim tecer de amor lábios e dedos
que a flauta animarão
E a flauta, sem nada mais que puro som
envolverá o sonho da canção
por todo o sempre, neste mundo
(Dezembro de 1981)

Quem me acode à cabeça e ao coração
neste fim de ano, entre alegria e dor?
Que sonho, que mistério, que oração?
Amor.
(Dezembro de 1985)



Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Quarto em Desordem - Carlos Drummond

Na curva perigosa dos cinquenta derrapei neste amor.

Que dor! que pétala sensível e secreta me atormenta e me provoca à síntese da flor que não sabe como é feita: amor na quinta-essência da palavra, e mudo de natural silêncio já não cabe em tanto gesto de colher e amar 

A nuvem que de ambígua se dilui nesse objeto mais vago do que nuvem e mais indefeso, corpo! 
Corpo, corpo, corpo 

Verdade tão final, sede tão vária a esse cavalo solto pela cama a passear o peito de quem ama.


Poesia de Carlos Drummond
Quadro Vincent Van Gogh 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Não deixe o amor passar - Carlos Drummond

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e, neste momento,houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente: O Amor.

Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida:

O AMOR

domingo, 16 de setembro de 2012

Desejos a você - Carlos Drummond

Desejo a você...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.

Rir como criança
Ouvir canto de passarinho.
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.


Poesia de Carlos Drummond de Andrade
e desejos do Prince para você...

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Um ano novo cochila dento de você - Carlos Drummond


Para você ganhar belíssimo Ano Novo cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido (mal vivido talvez ou sem sentido) para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior) novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, mas com ele se come,se passeia, se ama, se compreende, se trabalha, você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? passa telegramas?)

Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta.

Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumidas nem parvamente acreditar que por decreto de esperançam a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Imagem do cosmos que lembra o Yin-Yang e naturalmente o Prince Cristal