Precisamos descobrir o Brasil!
Escondido atrás das florestas,
com a água dos rios no meio,
o Brasil está dormindo, coitado.
Precisamos colonizar o Brasil.
o que faremos importando Francesas
muito louras, de pele macia,
Alemãs gordas, russas nostálgicas para
garçonetes dos restaurantes noturnos.
E virão sírias fidelíssimas.
Não convém desprezar as Japonesas...,
precisamos educar o Brasil.
Compraremos professores e livros,
assimilaremos finas culturas,
abriremos dancings
e subvencionaremos as elites.
Cada brasileiro terá sua casa
com fogão e aquecedor elétricos, piscina,
salão para conferências científicas.
E cuidaremos do Estado Técnico.
Precisamos louvar o Brasil.
Não é só um país sem igual.
Nossas revoluções são bem maiores
do que quaisquer outras; nossos erros também.
E nossas virtudes?
A terra das sublimes paixões...
os Amazonas inenarráveis...
os incríveis João Pessoas...
Precisamos adorar o Brasil!
Se bem que seja difícil caber
tanto oceano e tanta solidão
no pobre coração já cheio de compromissos...
se bem que seja difícil compreender
o que querem esses homens,
por que motivo eles se ajuntaram
e qual a razão de seus sofrimentos.
Precisamos, precisamos esquecer o Brasil!
Tão majestoso, tão sem limites, tão despropositado,
ele quer repousar de nossos terríveis carinhos.
O Brasil não nos quer! Está farto de nós!
Nosso Brasil é no outro mundo.
Este não é o Brasil.
Nenhum Brasil existe.
E acaso existirão os brasileiros?
Carlos Drummond, 1934, Brejo das almas
Poesia extremamente melancólica
e muito adequada aos nossos tempos !
Nenhum comentário:
Postar um comentário