Mestre, são plácidas
Todas as horas
Que nós perdemos,
Se no perdê-las,
Qual numa jarra,
Nós pomos flores.
Não há tristezas
Nem alegrias
Na nossa vida.
Assim saibamos,
Sábios incautos,
Não a viver,
Mas decorrê-la,
Tranquilos, plácidos,
Lendo as crianças
Por nossas mestras,
E os olhos cheios
De Natureza ...
À beira-rio, à beira-estrada,
Conforme calha, sempre no mesmo
Leve descanso de estar vivendo.
O tempo passa, não nos diz nada.
Envelhecemos.
Saibamos, quase maliciosos,
Sentir-nos ir.
Não vale a pena fazer um gesto.
Não se resiste ao deus atroz.
Que os próprios filhos devora sempre.
Colhamos flores.
Molhemos leves as nossas mãos
Nos rios calmos, para aprendermos
Calma também.
Girassóis sempre
Fitando o sol, da vida iremos
Tranquilos,tendo nem o remorso
De ter vivido.
Fernando Pessoa como Ricardo Reis em 12/06/1914
6 comentários:
Ricardo Reis é, sem dúvida, o mais perfeito dos heteronômios de Fernando Pessoa. A natureza o inspira e cadapoesia dele é tão perfeita quanto tudo.
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