sábado, 21 de novembro de 2020

Mestre - Fernando Pessoa

Mestre, são plácidas 
Todas as horas 
Que nós perdemos, 
Se no perdê-las, 
Qual numa jarra, 
Nós pomos flores. 

Não há tristezas 
Nem alegrias 
Na nossa vida. 
Assim saibamos, 
Sábios incautos, 
Não a viver, 

Mas decorrê-la, 
Tranquilos, plácidos, 
Lendo as crianças 
Por nossas mestras, 
E os olhos cheios 
De Natureza ... 

À beira-rio, à beira-estrada, 
Conforme calha, sempre no mesmo 
Leve descanso de estar vivendo. 

O tempo passa, não nos diz nada. 
Envelhecemos. 
Saibamos, quase maliciosos, 
Sentir-nos ir. 

Não vale a pena fazer um gesto. 
Não se resiste ao deus atroz.
Que os próprios filhos devora sempre. 

Colhamos flores. 
Molhemos leves as nossas mãos 
Nos rios calmos, para aprendermos 
Calma também. 

Girassóis sempre 
Fitando o sol, da vida iremos 
Tranquilos,tendo nem o remorso 
De ter vivido. 

Fernando Pessoa como Ricardo Reis em 12/06/1914

6 comentários:

Odessa Valadares disse...

Ricardo Reis é, sem dúvida, o mais perfeito dos heteronômios de Fernando Pessoa. A natureza o inspira e cadapoesia dele é tão perfeita quanto tudo.

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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