terça-feira, 24 de junho de 2008

Eu - Florbela Espanca

Até agora eu não me conhecia,
julgava que era eu e eu não era.

Aquela que em meus versos descrevera.

Tão clara como a fonte e como o dia.

Mas que eu não era.

Eu não o sabia mesmo que o soubesse, o não dissera…
Olhos fitos em rútila quimera

Andava atrás de mim… e não me via!
Andava a procurar-me pobre louca!

E achei o meu olhar no teu olhar,
e a minha boca sobre a tua boca!

E esta ânsia de viver, que nada acalma,
e a chama da tua alma a esbrasear

As apagadas cinzas da minha alma!


Florbela Espanca

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