sábado, 3 de março de 2007

Monólogo de Hamlet - William Shakespeare

Ser ou não ser, eis a questão.

O que é mais nobre? Sofrer na alma as flechas da fortuna ultrajante ou pegar em armas contra um mar de dores pondo-lhes um fim?

Morrer, dormir nada mais; e por via do sono pôr ponto final aos males do coração e aos mil acidentes naturais de que a carne é herdeira, num desenlace devotadamente desejado. Morrer!

Dormir; dormir ...

Dormir, sonhar talvez: mas aqui está o ponto de interrogação; porque no sono da morte, que sonhos podem assaltar-nos.

Uma vez fora da confusão da vida? É isso que nos obriga a refletir: é esse respeito que nos faz suportar por tanto tempo uma vida de agruras. Pois quem suportaria as chicotadas e o escárnio do tempo as injustiças do opressor, as afrontas dos orgulhosos, a tortura do amor desprezado, as demoras da lei, a insolência do oficial e os pontapés.

Que o paciente mérito recebe do incompetente quando o próprio poderia gozar da quietude dada pela ponta de um punhal? Quem tais fardos suportaria.Preferindo gemer e suar sob o peso de uma vida fatigante

A não pelo medo de algo depois da morte esse país desconhecido de cujos campos nenhum viajante retornou, e que nos baralha a vontade e nos faz suportar os males que temos em vez de voar para o que não conhecemos?

Assim a consciência nos faz a todos covardes e assim as cores nascentes da resolução empalidecem perante o frouxo clarão do pensamento e os planos de grande alcance e atualidade por via desta perspectiva mudam de sentido e saem do reino da ação.


William Shakespeare

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