sábado, 25 de fevereiro de 2017

Alva - Cecilia Meireles

Deixei meus olhos sozinhos
nos degraus da sua porta. 

Minha boca anda cantando,
mas todo o mundo está vendo
que a minha vida está morta. 

Seu rosto nasceu das ondas
e em sua boca há uma estrela.

Minha mão viveu mil vidas
para uma noite encontrá-la
e noutra noite perdê-la.
Caminhei tantos caminhos,
tanto tempo e não sabia
como era fácil a morte
pela seta do silêncio
no sangue de uma alegria.

Seus olhos andam cobertos
de cores da primavera.
Pelos muros de seu peito,
durante inúteis vigílias,
desenhei meus sonhos de hera.

Desenho, apenas, do tempo,
cada dia mais profundo,
roteiro do pensamento,
saudade das esperanças
quando se acabar o mundo...

2 comentários:

Daniela disse...

Para muitas pessoas o silêncio e a solidão são negativos, mas para Cecília fizeram parte de sua vida de forma positiva. Lindos versos! Não os conhecia!!

Cecília disse...

Linda poesia e escolha.
Linda imagem.
Lindo você!