domingo, 25 de fevereiro de 2018

Da a Surpresa de Ser - Fernando Pessoa

Da a surpresa de ser.
É alta, de um louro escuro,
faz bem só pensar em ver
seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem
(se ela estivesse deitada)
dois montinhos que amanhecem
sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco
assenta em palmo espalhado
sobre a saliência do flanco
do seu relevo tapado.

Apetece como um barco.

Tem qualquer coisa de gnomo.

Meu Deus, quando é que eu embarco?

Ó fome, quando é que eu como?



Fernando Pessoa

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