sábado, 31 de dezembro de 2016

No ano passado - Mario Quintana

Já repararam como é bom dizer 

"O ano passado"? 

É como quem já tivesse atravessado um rio, deixando tudo na outra margem...Tudo sim, tudo mesmo! Porque, embora nesse "tudo" se incluam algumas ilusões, a alma está leve, livre, numa extraordinária sensação de alívio, como só se poderiam sentir as almas desencarnadas. 

"Na Itália, quando soarem os sinos à meia-noite, todo mundo atirará pelas janelas as panelas velhas e os vasos rachados".

Ótimo! O meu ímpeto, modesto mas sincero, foi atirar-me eu próprio pela janela...

Atirei-me, pois, metaforicamente, pela janela do tricentésimo-sexagésimo-quinto andar do ano passado. 

Morri? 

Não... Ressuscitei!

Mário Quintana


Em vez de dizer o novo ano será melhor...
Diga e seja você mesmo uma pessoa melhor!
Feliz Você Novo

Prince Cristal

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Poema da Purificação - Carlos Drummond

Depois de tantos combates

o anjo bom matou o anjo mau

e jogou seu corpo no rio.

As água ficaram tintas

de um sangue que não descorava

e os peixes todos morreram.

Mas uma luz que ninguém soube

dizer de onde tinha vindo

apareceu para clarear o mundo,

e outro anjo pensou a ferida

do anjo batalhador.


Carlos Drummond de Andrade

San Miguel Arcangel

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Poemas de Dezembro - Carlos Drummond

Procuro uma alegria
uma mala vazia
do final de ano
e eis que tenho na mão
- flor do cotidiano -
é vôo de um pássaro
é uma canção.
(Dezembro de 1968)

Uma vez mais se constrói
a aérea casa da esperança
nela reluzem alfaias
de sonho e de amor: aliança.
(Dezembro de 1973)

Fazer da areia, terra e água uma canção
Depois, moldar de vento a flauta
que há de espalhar esta canção
Por fim tecer de amor lábios e dedos
que a flauta animarão
E a flauta, sem nada mais que puro som
envolverá o sonho da canção
por todo o sempre, neste mundo
(Dezembro de 1981)

Quem me acode à cabeça e ao coração
neste fim de ano, entre alegria e dor?
Que sonho, que mistério, que oração?
Amor.
(Dezembro de 1985)



Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Jesus to a Child - George Michael

Homenagem do Prince a George Michael que se foi ...

Jesus to a child

Doçura em seus olhos
Eu acho que você me ouviu chorar
Você sorriu para mim
Como Jesus para uma criança
Eu sou abençoado, eu sei
Os céus enviaram e os céus roubaram
Você sorriu para mim
Como Jesus para uma criança

E o que eu aprendi com toda esta dor?
Eu achei que nunca mais sentiria o mesmo
Por alguém ou alguma coisa novamente
Mas agora eu sei

Refrão:
Quando você encontrar um amor
Quando você souber que ele existe
Então o amante de que você sente falta
Virá para você naquelas noites frias
Quando você tiver sido amada
Quando você souber
que isso traz tal felicidade
Então o amante que você beijava
Irá confortá-la quando
não houver mais esperança

Tristeza em meus olhos
Ninguém adivinhou, bem,
ninguém tentou
Você sorriu para mim
Como Jesus para uma criança
Sem amor e frio
Com seu último suspiro
você salvou minha alma
Você sorriu para mim
Como Jesus para uma criança

E o que eu aprendi com todas essas lágrimas?
Eu esperei por você todos esses anos
Então, assim que começou, ele levou seu amor embora
Mas eu ainda digo
  
Refrão
Então as palavras que você não pôde dizer
Eu as cantarei para você
E o amor que nós teríamos feito
Eu o farei por dois
Pois cada lembrança
Tornou-se parte de mim
Você sempre será
O meu amor
  
Bem, eu fui amado,
então eu sei exatamente o que é o amor
E a amante que eu beijava
estava sempre ao meu lado
Oh, a amante de que eu ainda sinto falta...
era Jesus para uma criança

sábado, 24 de dezembro de 2016

Reverenciando desejos - Prince Cristal


Enquanto o sol
se levanta no horizonte...
os homens dormem,
as mulheres sonham,
as notícias se organizam
os pássaros despertam
os anjos nos preservam

Assim imaginando,
o Prince escreve
despertando poesias
realizando sonhos
e reverenciando desejos.


sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Moreninha (trechos) - Joaquim Manuel de Macedo

Tu, ontem, vinhas do monte
E paraste ao pé da fonte
À fresca sombra do til;
Regando as flores, sozinha,
Nem tu sabes, Moreninha,
O quanto achei-te gentil!

Depois segui-te calado
Como o pássaro esfaimado
Vai seguindo a juriti
Mas tão pura ias brincando,
Pelas pedrinhas saltando,
Que eu tive pena de ti!

E disse então: – Moreninha,
Se um dia tu fores minha,
Que amor, que amor não terás!
Eu dou-te noites de rosas
Cantando canções formosas
Ao som dos meus ternos ais.
...

Morena, minha Morena,
És bela, mas não tens pena
De quem morre de paixão!
– Tu vendes flores singelas
E guardas as flores belas,
As rosas do coração?!...

Moreninha, Moreninha,
Tu és das belas rainha,
Mas nos amores és má;
– Como tu ficas bonita
Com as tranças presas na fita,
Com as flores no samburá!

Eu disse então: – "Meus amores,
"Deixa mirar tuas flores
"Deixa perfumes sentir!"
Mas naquele doce enleio,
Em vez das flores, no seio,
No seio te fui bulir!

Como nuvem desmaiada
Se tinge de madrugada
Ao doce albor da manhã;
Assim ficaste, querida,
A face em pejo acendida,
Vermelha como a romã!

Tu fugiste, feiticeira,
E decerto mais ligeira
Qualquer gazela não é;
Tu ias de saia curta...
Saltando a moita de murta
Mostraste, mostraste o pé!

Ai! Morena, ai! meus amores,
Eu quero comprar-te as flores,
Mas dá-me um beijo também;
Que importa rosas do prado
Sem o sorriso engraçado
Que a tua boquinha tem?

Apenas vi-te, sereia,
Chamei-te – rosa da aldeia
Como mais linda não há.
Jesus! como eras bonita
Com as tranças presas na fita,
Com as flores no samburá!



Joaquim Manuel de Macedo
Trecho do livro A Moreninha 

Deus - Fernando Pessoa


Deus costuma usar a solidão
para nos ensinar sobre a convivência.

Às vezes, usa a raiva
para que possamos compreender o infinito valor da paz.

Outras vezes, usa o tédio
quando quer nos mostrar a importância da aventura e do abandono.

Deus costuma usar o silêncio
para nos ensinar sobre a responsabilidade do que dizemos.

Às vezes usa o cansaço,
para que possamos compreender o valor do despertar.

Outras vezes usa doença,
quando quer nos mostrar a importância da saúde.

Deus costuma usar o fogo,
para nos ensinar a andar sobre a água.

Às vezes, usa a terra,
para que possamos compreender o valor do ar.

Outras vezes usa a morte,
quando quer nos mostrar a importância da vida.



Poesia Fernando Pessoa
Pintura da capela Sistina, 
"A criação de Adão" por Michelangelo.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Reflexões do sétimo ciclo - Prince Cristal

Por mais que queiramos...
Status, beleza e poder... 
Não poderemos garanti-los para toda a vida. 

Na verdade, a pessoa pouco se inquieta
até com aquilo que muito desassossega.

Os  princípios devem ser primordiais,
 estando presentes nas relações e 
em todas as situações banais.

Não se engane com ego e valor. 
Só se conhece o valor de uma alma quando percebemos preciosidades além do amor.

Ouse se conquistar como próprio tutor,
sendo sempre lutador.

sábado, 17 de dezembro de 2016

Por que me falas nesse idioma? - Cecilia Meireles

Por que me falas nesse idioma?
perguntei-lhe, sonhando.

Em qualquer língua se entende essa palavra.
Sem qualquer língua.

O sangue sabe-o.

Uma inteligência esparsa aprende
esse convite inadiável.

Búzios somos, moendo a vida
inteira essa música incessante.

Morte, morte.

Levamos toda a vida morrendo em surdina.

No trabalho, 
no amor,
acordados, 
em sonho.

A vida é a vigilância da morte,
até que o seu fogo veemente nos consuma
sem a consumir.


Cecilia Meireles

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Paradoxo da verdade - Tao te king - Lao-Tse


Quem demanda a perfeição

parece ser imperfeito.


Embora a sua oculta plenitude
plenifique todas as vacuidades.

Quem possui verdadeira plenitude
É inesgotável
Por mais que se esgote.

Quem anda direito,
parece torto.

Grande habilidade parece inabilidade.
Arte genuína
parece mediocridade.

Movimento supera o frio.
Quietação vence o calor.
O que é puro e verdadeiro
sempre orienta o mundo.

Lao-Tse da obra-prima Tao te King



Tudo que é do mundo da qualidade é ignorado pelo mundo das quantidades.
O cego acha normal a escuridão o anormal a luz.

O doente que nunca conheceu saúde pode achar normal a doença e anormal a saúde.

Portanto a loucura de Deus é mais sábia que a sabedoria dos homens.

As grandes verdades quase sempre aparecem em forma de paradoxos.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

O Rouxinol e a Rosa - Oscar Wilde

Ela disse que dançaria comigo se eu lhe levasse rosas vermelhas – exclamou o Estudante – mas estamos no inverno e não há uma única rosa no jardim…

Por entre as folhas, do seu ninho, no carvalho, o Rouxinol o ouviu e, vendo-o ficou admirado…

- Não há nenhuma rosa vermelha no jardim! – disse o Estudante, com os olhos cheios de lágrimas. – Ah! Como a nossa felicidade depende de pequeninas coisas! Já li tudo quanto os sábios escreveram. A filosofia não tem segredos para mim e, contudo, a falta de uma rosa vermelha é a desgraça da minha vida.

Eis, afinal, um verdadeiro apaixonado! – disse o Rouxinol. Tenho cantado o Amor noite após noite, sem conhecê-lo no entanto; noite após noite falei dele às estrelas, e agora o vejo… O cabelo é negro como a flor do jacinto e os lábios vermelhos como a rosa que deseja; mas o amor pôs-lhe na face a palidez do marfim e o sofrimento marcou-lhe a fronte.

- Amanhã à noite o Príncipe dá um baile, murmurou o Estudante, e a minha amada se encontrará entre os convidados. Se levar uma rosa vermelha, dançará comigo até a madrugada. Somente se lhe levar uma rosa vermelha… Ah… Como queria tê-la em meus braços, sentir-lhe a cabeça no meu ombro e a sua mão presa a minha. Não há rosa vermelha em meu jardim… e ficarei só; ela apenas passará por mim… Passará por mim… e meu coração se despedaçará.

- Eis um verdadeiro apaixonado… – pensou o Rouxinol. – Do que eu canto, ele sofre. O que é dor para ele é alegria para mim. Grande maravilha, na verdade, é o Amar! Mais precioso que esmeraldas e mais caro que opalas finas. Pérolas e granada não podem comprá-lo, nem se oferece nos mercados. Mercadores não o vendem, nem o conferem em balanças a peso de ouro.

- Os músicos da galeria – prosseguiu o Estudante – tocarão nos seus instrumentos de corda e, ao som de harpas e violinos, minha amada dançará. Dançará tão leve, tão ágil, que seus pés mal tocarão o assoalho e os cortesãos, com suas roupas de cores vivas, reunir-se-ão em torno dela. Mas comigo não bailará, porque não tenho uma rosa vermelha para dar-lhe… – e atirando-se à relva, ocultou nas mãos o rosto e chorou.

- Por que está chorando? – perguntou um pequeno lagarto ao passar por ele, correndo, de rabinho levantado.

- É mesmo! Por que será? – Indagou uma borboleta que perseguia um raio de sol.

- Por quê? – sussurrou uma linda margarida à sua vizinha.

- Chora por causa de uma rosa vermelha, – informou o Rouxinol.

- Por causa de uma rosa vermelha? – exclamaram – Que coisa ridícula! E o lagarto, que era um tanto irônico, riu à vontade.

Mas o Rouxinol compreendeu a angústia do Estudante e, silencioso, no carvalho, pôs-se a meditar sobre o mistério do Amor.

Subitamente, abriu as asas pardas e voou.

Cortou, como uma sombra, a alameda, e como uma sombra, atravessou o jardim.

Ao centro do relvado, erguia-se uma roseira. Ele a viu. Voou para ela e posou num galho.

- Dá-me uma rosa vermelha – pediu – e eu cantarei para ti a minha mais bela canção!

- Minhas rosas são brancas; tão brancas quanto a espuma do mar, mais brancas que a neve das montanhas. Procura minha irmã, a que enlaça o velho relógio-de-sol. Talvez te ceda o que desejas.

Então o Rouxinol voou para a roseira, que enlaçava o velho relógio-de-sol.

- Dá-me uma rosa vermelha – pediu – e eu te cantarei minha canção mais linda.

A roseira sacudiu-se levemente.

- Minhas rosas são amarelas como as cabelos dourados das donzelas, ainda mais amarelas que o trigo que cobre os campos antes da chegada de quem o vai ceifar. Procura a minha irmã, a que vive sob a janela do Estudante. Talvez ela possa te possa ajudar.

O Rouxinol então, dirigiu o vôo para a roseira que crescia sob a janela do Estudante.

- Dá-me uma rosa vermelha – pediu – e eu te cantarei a mais linda de minhas canções.

A roseira sacudiu-se levemente.

- Minhas rosas são vermelhas, tão vermelhas quanto os pés das pombas, mais vermelhas que os grandes leques de coral que oscilam nos abismos profundos do oceano. Contudo, o inverno regelou-me até as veias, a geada queimou-me os botões e a tempestade quebrou-me os galhos. Não darei rosas este ano.

- Eu só quero uma rosa vermelha, repetiu o Rouxinol, – uma só rosa vermelha. Não haverá meio de obtê-la?

- Há, respondeu a Roseira, mas é meio tão terrível que não ouso revelar-te.
- Dize. Não tenho medo.

- Se queres uma rosa vermelha, explicou a roseira, hás de fazê-la de música, ao luar, tingi-la com o sangue de teu coração. Tens de cantar para mim com o peito junto a um espinho. Cantarás toda a noite para mim e o espinho deve ferir teu coração e teu sangue de vida deve infiltrar-se em minhas veias e tornar-se meu.

- A morte é um preço exagerado para uma rosa vermelha – exclamou o Rouxinol – e a Vida é preciosa… É tão bom voar, através da mata verde e contemplar o sol em seu esplendor dourado e a lua em seu carro de pérola…O aroma do espinheiro é suave, e suaves são as campânulas ocultas no vale, e as urzes tremulantes na colina. Mas o Amor é melhor que a Vida. E que vale o coração de um pássaro comparado ao coração de um homem?

Abriu as asas pardas para o vôo e ergueu-se no ar. Passou pelo jardim como uma sombra e, como uma sombra, atravessou a alameda.

O Estudante estava deitado na relva, no mesmo ponto em que o deixara, com os lindos olhos inundados de lágrimas.

- Rejubila-te – gritou-lhe o Rouxinol – Rejubila-te; terás a tua rosa vermelha. Vou fazê-la de música, ao luar. O sangue de meu coração a tingirá. Em conseqüência só te peço que sejas sempre verdadeiro amante, porque o Amor é mais sábio do que a Filosofia; mais poderoso que o poder.. Tem as asas da cor da chama e da cor da chama tem o corpo. Há doçura de mel em seus braços e seu hálito lembra o incenso.

O Estudante ergueu a cabeça e escutou. Nada pode entender, porém, do que dizia o Rouxinol, pois sabia apenas o que está escrito nos livros.

Mas o Carvalho entendeu e ficou melancólico, porque amava muito o pássaro que construíra ninho em seus ramos.

- Canta-me um derradeiro canto – segredou-lhe – sentir-me-ei tão só depois da tua partida.

Então o Rouxinol cantou para o Carvalho, e sua voz fazia lembrar a água a borbulhar de uma jarra de prata.

Quando o canto finalizou, o Estudante levantou-se, tirando do bolso um caderninho de notas e um lápis.

- Tem classe, não se pode negar – disse consigo – atravessando a alameda. Mas terá sentimento? Não creio. É igual a maioria dos artistas. Só estilo, sinceridade nenhuma. Incapaz de sacrificar-se por outrem. Só pensa e cantar e bem sabemos quanto a Arte é egoísta. No entanto, é forçoso confessar, possui maravilhosas notas na voz. Que pena não terem significação alguma, nem realizarem nada realmente bom!

Foi para o quarto, deitou-se e, pensando na amada, adormeceu.

Quando a lua refulgia no céu, o Rouxinol voou para a Roseira e apoiou o peito contra o espinho. Cantou a noite inteira e o espinho mais e mais foi se enterrando em seu peito, e o sangue de sua vida lentamente se escoou…

Primeiro descreveu o nascimento do amor no coração de um menino e uma menina; e, no mais alto galho da Roseira, uma flor desabrochou, extraordinária, pétala por pétala, acompanhando um canto e outro canto. Era pálida, a princípio, qual a névoa que esconde o rio, pálida qual os pés da manhã e as asas da alvorada. Como sombra de rosa num espelho de prata, como sombra de rosa em água de lagoa era a rosa que apareceu no mais alto galho da Roseira.

Mas a Roseira pediu ao Rouxinol que se unisse mais ao espinho. – Mais ainda, Rouxinol, – exigiu a Roseira, – senão o dia raia antes que eu acabe a rosa.

O Rouxinol então apertou ainda mais o espinho junto ao peito, e cada vez mais profundo lhe saía o canto porque ele cantava o nascer da paixão na alma do homem e da mulher.

E tênue nuance rosa nacarou as pétalas, igual ao rubor que invade a face do noivo quando beija a noiva nos lábios.

Mas o espinho não lhe alcançava ainda o coração e o coração da flor continuava branco – pois somente o coração de um Rouxinol pode avermelhar o coração de rosa.

- Mais ainda, Rouxinol, – clamou a Roseira – raiar o dia antes que eu finalize a rosa.

E o Rouxinol, desesperado, calcou-se mais forte no espinho, e o espinho lhe feriu o coração, e uma punhalada de dor o traspassou.

Amarga, amarga lhe foi a angústia e cada vez mais fremente foi o canto, porque ele cantava o amor que a morte aperfeiçoa, o amor que não morre nem no túmulo.

E a rosa maravilhosa tornou-se purpurina como a rosa do céu oriental. Suas pétalas ficaram rubras e, vermelho como um rubi, seu coração.

Mas a voz do Rouxinol se foi enfraquecendo, as pequeninas asas começaram a estremecer e uma névoa cobriu-lhe o olhar, o canto tornou-se débil e ele sentiu qualquer coisa apertar-lhe a garganta.

Então, arrancou do peito o derradeiro grito musical.

Ouviu-o a lua branca, esqueceu-se da Aurora e permaneceu no céu

A rosa vermelha o ouviu, e trêmula de emoção, abriu-se à aragem fria da manhã. Transportou-o o Eco, à sua caverna purpurina, nos montes, despertando os pastores de seus sonhos. E ele levou-os através dos caniços dos rios e eles transmitiram sua mensagem ao mar.

- Olha! Olha! Exclamou a Roseira. – A rosa está pronta, agora.

Ao meio dia o Estudante abriu a janela e olhou.

- Que sorte! – disse – Uma rosa vermelha! Nunca vi rosa igual em toda a minha vida. É tão linda que tem certamente um nome complicado em latim. E curvou-se para colhê-la. 

Depois, pondo o chapéu, correu à casa do professor 

- Disseste que dançarias comigo se eu te trouxesse uma rosa vermelha, – lembrou o Estudante. – Aqui tens a rosa mais linda e vermelha de todo o mundo. Hás de usá-la, hoje a noite, sobre ao coração, e quando dançarmos juntos ela te dirá o quanto te amo. 

A moça franziu a testa. 

- Esta rosa não combina com o meu vestido, disse. Ademais, o Capitão da Guarda mandou-me jóias verdadeiras, e jóias, todos sabem, custam muito mais do que flores… 

- És muito ingrata! – exclamou o Estudante, zangado. E atirou a rosa a sarjeta, onde a roda de um carro a esmagou. 

- Sou ingrata? E o senhor não passa de um grosseirão. E, afinal de contas, quem és? Um simples estudante… não acredito que tenhas fivelas de prata, nos sapatos, como as tem o Capitão da Guarda… 

- e a moça levantou-se e entrou em casa. 

- Que coisa imbecil, o Amor! – Resmungou o estudante, afastando-se. – Nem vale a utilidade da Lógica, porque não prova nada, está sempre prometendo o que não cumpre e fazendo acreditar em mentiras. Nada tem de prático e como neste século o que vale é a prática, volto à Filosofia e vou estudar metafísica. 

Retornou ao quarto, tirou da estante um livro empoeirado e pôs-se a ler…


domingo, 11 de dezembro de 2016

Correndo - Prince Cristal

E assim se vai... 
Na luz do entender 
Namorados correndo 
Com lealdade na dificuldade 
Sem tempo de pensar 
Com pressa de chegar 
Sem sinceridade em amar 
Com sentimento a ganhar 
Sem coragem de arriscar 
No medo de arriscar 
E com sentimento a brotar 
Ele ama 
Ela supera 
Ele anseia 
Ela desconfia 
Ele teme 
Ela geme 
Eles sofrem, e desistem ...

sábado, 10 de dezembro de 2016

Frases de William Shakespeare escolhidas pelo Prince Cristal


Dramaturgo e poeta, nasceu 23 de Abril de 1564 e faleceu em 23 de Abril de 1616 em Stratford-upon-Avon, na Inglaterra.

É considerado por muitos o mais importante autor da língua inglesa e um dos mais influentes do mundo ocidental. Seus textos e temas permaneceram vivos até aos nossos dias, sendo revisitados com frequência pelo teatro, televisão, cinema e literatura.

Como dramaturgo, escreveu não só algumas das mais marcantes tragédias da cultura ocidental, mas também algumas comédias. A habilidade de Shakespeare em ultrapassar as fronteiras puramente narrativas das suas obras, penetrando de uma forma incisiva nos aspectos mais íntimos da natureza humana.

Os textos de Shakespeare fizeram e ainda fazem sucesso, pois tratam de temas próprios dos seres humanos, independente do tempo histórico. Amor, relacionamentos afetivos, sentimentos, questões sociais, temas políticos e outros assuntos, relacionados a condição humana, são constantes nas obras deste escritor.


Algumas frases célebres de Shakespeare:

"O tempo é muito lento para os que esperam;
muito rápido para os que têm medo;
muito longo para os que lamentam;
muito curto para os que festejam.
Mas, para os que amam, o tempo é eternidade"

"Ao passar do tempo aprendemos que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo à longas distâncias"

"Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém.
Posso, apenas, dar boas razões para que gostem de mim e ter a paciência para que a vida faça o resto..."

"Os sentimentos verdadeiros se manifestam mais por atos que palavras"

"Não sou tudo que você sonha, mas sou muito mais do que você merece"

"Os miseráveis não têm outro remédio a não ser a esperança."

"Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas,pois pode ser a última vez que as vejamos"

"Guardar ressentimento é tomar veneno e esperar que o inimigo morra"

"Esses atores eram todos espíritos e dissiparam-se no ar, sim, no ar impalpável. Um dia, tal e qual a base ilusória desta visão, as altas torres envoltas em nuvens, os palácios, os templos solenes, e todo este imenso globo hão de sumir-se no ar como se deu com esse tênue espetáculo. Somos feitos da mesma substância dos sonhos e, entre um sono e outro, decorre a nossa curta existência." ( A Tempestade )

"Eu aprendi que a melhor maneira de tornar a sua aparência agradável é um belo sorriso"
"O próprio sol não enxerga até que o céu se abra"


"...Descobre que só porque alguém não te ama do jeito que você quer que ame Não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode Pois existem pessoas que nos amam, Mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso..." "A paciência é a mais nobre e gentil das virtudes!" (Macbeth)

"O amor conforta como o sol depois da chuva"

"Há quedas que provocam ascensões maiores"

"Quase sempre as mulheres fingem desprezar o que mais vivamente desejam"

"Só há uma treva: a ignorância"

"A glória é como o círculo na água; nunca cessa de se dilatar até que, à força de se expandir, se perde no nada"

"Quanto mais fecho os olhos, melhor vejo... Meu dia é noite quando estás ausente... E à noite eu vejo o sol se estás presente... "

"Os covardes morrem muitas vezes antes da morte; o valente experimenta o gosto da morte apenas uma vez"

O mundo todo é um palco. E todos, homens e mulheres, apenas atores. Eles entram e saem de cena. E cada qual a seu tempo representa diversos papéis"

"É mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que à ponta da espada"

"Sofremos demasiado pelo pouco que nos falta e alegramo-nos pouco pelo muito que temos..."

"Nem palavras duras nem olhares severos devem afugentar quem ama; as rosas tem espinhos e no entanto, colhem-se"

"Presta o ouvido a todos, e a poucos a voz. Ouve as censuras dos demais; mas reserva tua própria opinião."

"Ser honrado tal como anda o mundo, equivale a ser um homem escolhido entre dez mil."

"Eu juro que vale mais ser de baixa condição e cercar-se alegremente de gente humilde, que não se encontrar muito encumbrado, com um resplandecente pesar e levar uma dourada tristeza."

"Minhas palavras sobem voando, meus pensamentos ficam aqui abaixo; palavras sem pensamentos nunca chegam ao céu."

"A consciência é a voz do alma; as paixões, a do corpo."

"Um homem que não se alimenta de seus sonhos, envelhece cedo."

"Seja como for o que penses, creio que é melhor dizê-lo com boas palavras."

"É melhor ser rei de teu silêncio do que escravo de tuas palavras."

"Não existe nada bom nem mau; é o pensamento humano o que o faz aparecer assim."

"As improvisações são melhores quando se prepara"

"Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia", saída da boca do atormentado personagem Hamlet.



Curiosidade: A famosa pintura Chandos portrait deste post,
já comumente assumida como a pintura de William Shakespeare,
nunca foi definitivamente comprovada.
National Portrait Gallery, London, já visitado pelo Prince

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

O Amor - Hermann Hesse

Quanto mais envelhecia, quanto mais insípidas me pareciam as pequenas satisfações que a vida me dava, tanto mais claramente compreendia onde eu deveria procurar a fonte das alegrias da vida. 

Aprendi que ser amado não é nada, enquanto amar é tudo (...)

O dinheiro não era nada, o poder não era nada.

Vi tanta gente que tinha dinheiro e poder, e mesmo assim era infeliz.

A beleza não era nada. Vi homens e mulheres belos, infelizes, apesar de sua beleza.

Também a saúde não contava tanto assim.

Cada um tem a saúde que sente.

Havia doentes cheios de vontade de viver e havia sadios que definhavam angustiados pelo medo de sofrer.

A felicidade é amor, só isto.

Feliz é quem sabe amar. 
Feliz é quem pode amar muito.
Mas amar e desejar não é a mesma coisa.

O amor é o desejo que atingiu a sabedoria.

O amor não quer possuir.

O amor quer somente amar.


Hermann Hesse

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Acordo de noite subitamente - Fernando Pessoa

Acordo de noite subitamente.

E o meu relógio ocupa a noite toda.

Não sinto a Natureza lá fora,

O meu quarto é uma coisa escura com paredes vagamente brancas.

Lá fora há um sossego como se nada existisse.

Só o relógio prossegue o seu ruído.

E esta pequena coisa de engrenagens que está em cima da minha mesa

Abafa toda a existência da terra e do céu...

Quase que me perco a pensar o que isto significa,

Mas estaco, e sinto-me sorrir na noite com os cantos da boca,

Porque a única coisa que o meu relógio simboliza ou significa

É a curiosa sensação de encher a noite enorme

Com a sua pequenez.

Fernando Pessoa

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Para ser popular - Oscar Wilde

A cada bela impressão que causamos,

conquistamos um inimigo.

Para ser popular

é imprescindível ser medíocre. 




Oscar Wilde

domingo, 4 de dezembro de 2016

Riscos - Prince Cristal

Quando não nos apegamos

a pessoas e desejos

nunca teremos

 nosso coração partido.

Quadro Old Man in Sorrow, 1890 de Vincent van Gogh 
(On the Threshold of Eternity)

sábado, 3 de dezembro de 2016

Só a Natureza é Divina - Fernando Pessoa

Só a natureza é divina, e ela não é divina...

Se falo dela como de um ente
É que para falar dela preciso usar da linguagem dos homens
Que dá personalidade às coisas,
E impõe nome às coisas.

Mas as coisas não têm nome nem personalidade:
Existem, e o céu é grande a terra larga,
E o nosso coração do tamanho de um punho fechado...

Bendito seja eu por tudo quanto sei.


Gozo tudo isso como quem sabe que há o sol.

Fernando Pessoa
como Alberto Caeiro