sábado, 27 de junho de 2020

Fé no seu Brilho - Prince Cristal

Talvez algumas pessoas 
não percebam seu valor
ou sintam a sua falta ...

Então ... 
Saiba sorrir,
mesmo rodeado de pessoas tristes, 
Saiba ser justo,
mesmo sofrendo injustiças, 
Saiba amar,
mesmo não sendo correspondido.

Pois quem tem fé no seu próprio brilho 
nunca acabará ofuscado
por pessoas nubladas.

Esperança e Fé


Salvator Mundi é uma pintura de Jesus Cristo,
de Leonardo da Vinci. Redescoberta em 2005 a obra se perdeu,
foi restaurada e exibida em 2011 e vendida 2017,
por US$450,3 milhões, como pintura mais cara negociada.
 
A pintura mostra Cristo, no estilo renascentista,
 a dar uma bênção com a mão direita levantada
e os dedos cruzados enquanto segura
uma esfera de cristal na mão esquerda.

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Canção do vento e da minha vida - Manuel Bandeira

O vento varria as folhas, 
O vento varria os frutos, 
O vento varria as flores… 
E a minha vida ficava 
Cada vez mais cheia 
De frutos, de flores, de folhas. 

O vento varria as luzes, 
O vento varria as músicas, 
O vento varria os aromas… 
E a minha vida ficava 
Cada vez mais cheia 
De aromas, de estrelas, de cânticos. 

O vento varria os sonhos 
E varria as amizades… 
O vento varria as mulheres. 
E a minha vida ficava 
Cada vez mais cheia 
De afetos e de mulheres. 

O vento varria os meses 
E varria os teus sorrisos… 
O vento varria tudo! 
E a minha vida ficava 
Cada vez mais cheia de tudo. 

Manuel Bandeira

sábado, 20 de junho de 2020

Inverno - Cecilia Meireles

Choveu tanto sobre o teu peito 
que as flores não podem estar vivas 
e os passos perderam a fôrça 
de buscar estradas antigas. 

Em muita noite houve esperanças 
abrindo as asas sobre as ondas. 
mas o vento era tão terrível! 
mas as águas eram tão longas! 

Pode ser que o sol se levante 
sobre as tuas mãos sem vontade 
e encontres as coisas perdidas 
na sombra em que as abandonaste. 

Mas quem virá com as mãos brilhantes 
trazendo o seu beijo e o teu nome, 
para que saibas que és tu mesmo, 
e reconheças o teu sonho? 

A primavera foi tão clara 
que se viram novas estrelas, 
e soaram no cristal dos mares, 
lábios azuis de outras sereias. 

Vieram, por ti, músicas límpidas, 
trançando sons de ouro e de seda. 
mas teus ouvidos noutro mundo 
desalteravam sua sede. 

Cresceram prados ondulantes 
e o céu desenhou novos sonhos, 
e houve muitas alegorias 
navegando entre Deus e os homens. 

Mas tu estavas de olhos fechados 
prendendo o tempo em teu sorriso. 
e em tua vida a primavera 
não pude achar nenhum motivo...

Cecília Meireles

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Receita de mulher - Vinicius de Moraes

As muito feias que me perdoem 
mas beleza é fundamental. 

É preciso 
que haja qualquer coisa de flor em tudo isso 
qualquer coisa de dança, 
qualquer coisa de haute couture em tudo isso 
(ou então que a mulher se socialize elegantemente em azul, 
como na República Popular Chinesa)

Não há meio-termo possível. 
É preciso 
que tudo isso seja belo. É preciso 
que súbito tenha-se a impressão 
de ver uma garça apenas pousada 
e que um rosto adquira de vez em quando essa cor 
só encontrável no terceiro minuto da aurora. 

É preciso que tudo isso seja sem ser, 
mas que se reflita e desabroche 
no olhar dos homens. É preciso, 
é absolutamente preciso 
que seja tudo belo e inesperado. 

É preciso 
que umas pálpebras cerradas 
lembrem um verso de Éluard 
e que se acaricie nuns braços 
alguma coisa além da carne: que se os toque 
como no âmbar de uma tarde. 
Ah, deixai-me dizer-vos 

Que é preciso que a mulher 
que ali está como a corola ante o pássaro 
seja bela ou tenha pelo menos 
um rosto que lembre um templo e 
seja leve como um resto de nuvem: 
mas que seja uma nuvem 
Com olhos e nádegas. 

Nádegas é importantíssimo. 
Olhos então 
Nem se fala, 
que olhe com certa maldade inocente. 

Uma boca Fresca (nunca úmida!) 
é também de extrema pertinência. 

É preciso que as extremidades sejam magras; 
que uns ossos despontem, 
sobretudo a rótula no cruzar das pernas, 
e as pontas pélvicas 
no enlaçar de uma cintura semovente. 

Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: 
uma mulher sem saboneteiras 
é como um rio sem pontes. 
Indispensável. 

Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida 
a mulher se alteie em cálice, e que seus seios 
sejam uma expressão greco-romana, 
mas que gótica ou barroca 
E possam iluminar o escuro 
com uma capacidade mínima de cinco velas. 

Sobremodo pertinaz é estarem a caveira
e a coluna vertebral 
levemente à mostra; 
e que exista um grande latifúndio dorsal! 

Os membros que terminem como hastes, 
mas que haja um certo volume de coxas 
e que elas sejam lisas, 
lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem 
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário.
É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio 
Apenas sensível 
(um mínimo de produtos farmacêuticos!). 

Preferíveis sem dúvida os pescoços longos 
de forma que a cabeça dê por vezes a impressão 
de nada ter a ver com o corpo,
e a mulher não lembre flores sem mistério. 

Pés e mãos devem conter elementos góticos 
Discretos.A pele deve ser frescas nas mãos, 
nos braços, no dorso, e na face 
mas que as concavidades e reentrâncias 
tenham uma temperatura nunca inferior 
a 37 graus centígrados, 
podendo eventualmente 
provocar queimaduras do primeiro grau. 

Os olhos, que sejam de preferência grandes 
e de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; 
e que se coloquem sempre para lá 
de um invisível muro de paixão 
que é preciso ultrapassar.

Que a mulher seja em princípio alta 
ou, caso baixa, que tenha a atitude mental 
dos altos píncaros. 

Ah, que a mulher dê sempre a impressão 
de que se fechar os olhos 
ao abri-los ela não estará mais presente 
com seu sorriso e suas tramas.
Que ela surja, não venha; 
parta, não vá 

E que possua uma certa capacidade 
de emudecer subitamente e nos fazer beber 
O fel da dúvida.
Oh, sobretudo 
Que ela não perca nunca, 
Não importa em que mundo 
Não importa em que circunstâncias, 
a sua infinita volubilidade de pássaro; 
e que acariciada no fundo de si mesma 
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; 
e que exale sempre o impossível perfume; 
e destile sempre o embriagante mel; 
e cante sempre o inaudível canto da sua combustão; 
e não deixe de ser nunca a eterna dançarina do efêmero; 

E em sua incalculável imperfeição 
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita 
de toda a criação inumerável.

Inspiração na Monica Bellucci fazendo 55 anos

sábado, 13 de junho de 2020

Diário da vida de Fernando Pessoa

Uma breve cronologia do escritor Fernando Pessoa,
em forma de diário no seu dia de nascimento...

1888, 13 de Junho - Isto não é algo que me lembre mas dizem que neste dia, em Lisboa, nasci. Acreditemos.

1894 - Tinha eu 6 anos, e como criança criativa que era, criei o meu primeiro heterônimo: Chevalier de Pas !

1895 - O heterônimo surgiu antes, os poemas seguiram-se. Escrevo o meu primeiro poema intitulado À Minha Querida Mamã. 

Ó terras de Portugal
Ó terras onde eu nasci
Por muito que goste delas
Inda gosto mais de ti. 

1896 - Fui com a mamãe e um tio-avô para Durban. 

1897 - Fiz o curso primário na escola de freiras irlandesas da West Street. No mesmo instituto, fiz a primeira comunhão. 
1899 - Ingressei na Durban High School e criei o heterônimo Alexander Search. 

1902 - Retornei a Lisboa em junho. Em setembro, voltei sozinho para a África do Sul. Tentando escrever romances em inglês. 

1904 - Terminei meus estudos na África do Sul. 

1905 - Voltei de vez para Lisboa, morando com minha tia. 

1912 - Estreei como crítico literário, provocando polêmicas junto à intelectualidade portuguesa. 

1913 - Iniciei minha produção literária. Escrevi O Marinheiro.

1914 - Já feito homem, este ano foi especialmente importante na minha carreira. Criei os meus três heterônimos mais famosos: Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro. Heterônimos, para os mais leigos nesta matéria de escrita, são personagens que criei, que assinam os livros por mim, cada uma possuidora de personalidades distintas. 

Também escrevo duas, modéstia à parte e segundo me dizem, obras primas: O Guardador de Rebanhos e O Livro do Desassossego.

1918 - Conhecem a revista Times? Neste ano publicam poemas meus nesta revista. Mal posso acreditar! em 1920, conheci Ophélia Queiroz. 

1921 - Fundei a editora Olisipo, onde publiquei poemas em inglês e em 1925 morreu minha mãe . 

1929 - Voltei a me relacionar com Ophélia e em 1931 terminei novamente com ela. 

1934 - Sinto a morte próxima... No entanto, o pouco tempo que me parece restar é compensado por uma inspiração quase demoníaca. Neste ano é publicada A Mensagem, a minha mais importante obra. 

1935 - Esta parte não posso escrever mas neste ano sou internado com o diagnóstico de cólica hepática. A minha última frase escrita, em inglês, é "I know not what tomorrow will bring". No dia 30 de Novembro faleci, ou como expresso na minha obra, fui conhecer os seres superiores. 
 
Adaptação de FEITOSA, Soares 
Fernando Pessoa - Cronologia da vida
Prince Cristal se inspira em Fernando Pessoa

sexta-feira, 12 de junho de 2020

O Amor é grande - Carlos Drummond

O mundo 
é grande e cabe 
nesta janela sobre o mar. 

O mar 
é grande e cabe 
na cama e no colchão de amar. 

O amor 
é grande e cabe 
no breve espaço de beijar.

Carlos Drummond de Andrade