quarta-feira, 23 de julho de 2008

Pausa - Mario Quintana

Quando pouso os óculos sobre a mesa para uma pausa na leitura de coisas feitas, ou na feitura de minhas próprias coisas, surpreendo-me a indagar com que se parassem os óculos sobre a mesa.

Com algum inseto de grandes olhos e negras e longas pernas ou antenas?
Com algum ciclista tombado?

Não, nada disso me contenta ainda. Com que se parecem mesmo?

E sinto que, enquanto eu não puder captar a sua implícita imagem-poema, a inquietação perdurará.

E, enquanto o meu Sancho Pança, cheio de si e de seu senso comum, declara a seu Dom Quixote que uns óculos sobre a mesa, além de parecerem apena uns óculos sobre a mesa, são, de fato, um par de óculos sobre a mesa, fico a pensar qual dos dois - Dom Quixote ou Sancho? - vive uma vida mais intensa e, portanto, mais verdadeira...

E paira no ar o eterno mistério dessa necessidade de recriação das coisas e imagens, para terem mais vida, e da vida em poesia, para ser mais vivida.

Esse enigma, eu passo a ti, pobre leitor.

E agora?

Por enquanto, ante a atual insolubilidade da coisa, só me resta citar o terrível dilema de Stechetti:

"Io sonno un poeta o sonno un imbecile?"

Alternativa, aliás, extensiva ao leitor de poesia...

A verdade é que a minha atroz função não é resolver e sim propor enigmas, fazer o leitor pensar e não pensar por ele.

E daí?

Mas o melhor - pondera-me, com a sua voz pausada, o meu Sancho Pança

O melhor é repor depressa os óculos no nariz.

Um comentário:

Batom e poesias disse...

Cheguei aqui de fato, atrás de uma foto de Mario Quintana, para postar no meu blog. Surpeendi-me com as delícias de sua casa.
Muito prazer.

Rossana