quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Madrigal melancólico - Manuel Bandeira


O que eu adoro em ti
Não é sua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza

O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Mas é o espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é tua ciência
Do coração dos homens e das coisas

O que eu adoro em ti
Não é a tua graça musical
Sucessiva e renovada a cada momento
Graça aérea como teu próprio momento
Graça que perturba e que satisfaz

O que eu adoro em ti
Não é a mãe que já perdi
E nem meu pai
O que eu adoro em tua natureza
Não é o profundo instinto matinal
Em teu flanco aberto como uma ferida
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza

O que adoro em ti
 lastima-me e consola-me
O que eu adoro em ti
 é A VIDA !!!

Manuel Bandeira

Um comentário:

Escrevendo na Pele disse...

Meu Deus, que rara beleza! Parabéns mais uma vez por você citar Bandeira!! Que delícia!!