Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
Cecília Meireles
do livro "Viagem"
3 comentários:
Maravilhoso seu Blog.
Entrei procurando uma poesia!
Essa imagem é fascinante. Aliás, em seu blog há várias bastante boas. Onde vovê as encontra? Dá a dica para nós, Prince!
Lindo poema! Melancolia que reflete na alma de quem lê! Beijos
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