quarta-feira, 5 de abril de 2017

Vinte Poemas de Amor nº 3 - Pablo Neruda

Ah vastidão de pinheiros,
rumor de ondas quebrando,
lento jogo de luzes, sino tão solitário,
crepúsculo caindo nos olhos, boneca,
búzio terrestre, em ti a terra canta!
Em ti os rios cantam e a alma foge-me neles
como tu desejares e para onde tu quiseres.

Marca-me o caminho no teu arco de esperança
e soltarei em delírio a minha revoada de flechas.

Em torno de mim já vejo a tua cintura de névoa
e o teu silêncio acossa as minhas horas perseguidas,
e és tu com os teus braços de pedra transparente
onde ancoram meus beijos e a úmida ânsia faz ninho.

Ah a tua voz misteriosa que o amor escurece e dobra
no entardecer ressoante e morrendo!

Assim em horas profundas sobre os campos eu vi
dobrarem-se as espigas na boca do vento.

Corpo de mulher minha, persistirei na tua graça.

Minha sede, minha ânsia sem limite, meu caminho indeciso!
Escuros regos onde a sede eterna continua,
e a fadiga continua, e a dor infinita.


Pablo Neruda

Um comentário:

Daniela disse...

Poema forte! Diz muito sobre o sentimento humano! Somos razão, emoção, seres divinos! Bjs