quarta-feira, 12 de abril de 2017

Vinte Poemas de Amor nº 6 - Pablo Neruda

Recordo-te como eras no outono passado.
Eras a boina cinzenta e o coração em calma.

Nos teus olhos lutavam as chamas do crepúsculo.
E as folhas caíam na água da tua alma.


Fincada nos meus braços como uma trepadeira,
as folhas recolhia a tua voz lenta e em calma.


Fogueira de estupor onde a minha sede ardia.
Doce jacinto azul torcido sobre a minha alma.


Sinto viajar os teus olhos e é distante o outono:
boina cinzenta, voz de pássaro e coração de casa
para onde emigravam os meus profundos desejos
e caíam os meus beijos alegres como brasas.


Céu visto de um navio. Campo visto dos montes:
a lembrança é de luz, de fumo, de lago em calma!


Para lá dos teus olhos ardiam os crepúsculos.
Folhas secas de outono giravam na tua alma.

Um comentário:

Daniela disse...

Pablo Neruda, profundo em suas poesias, intenso em suas mensagens poéticas! O que seria de nós sem nossas lembranças, nossos sonhos? Beijos!