sábado, 22 de julho de 2017

Magnificat - Fernando Pessoa

Quando é que passará esta noite interna, o universo,
E eu, a minha alma, terei o meu dia?


Quando é que despertarei de estar acordado?
Não sei. O sol brilha alto,
Impossível de fitar.


As estrellas pestanejam frio,
Impossíveis de contar.


O coração pulsa alheio,
Impossível de escutar.


Quando é que passará este drama sem theatro,
Ou este theatro sem drama,
E recolherei a casa?


Onde? Como? Quando?
Gato que me fitas com olhos de vida,
Quem tens lá no fundo?


É Esse! É esse!
Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei;
E então será dia.


Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma: será dia!



Fernando Pessoa 
como Álvaro de Campos em 07/11/1933

Um comentário:

Daniela disse...

Reencontro com nós mesmos, após partidas e chegadas! Esplêndido! Beijos, Prince!