O romance A Moreninha (1844) concedeu ao seu
autor, Joaquim Manuel de Macedo, imenso prestígio nos salões sociais na
época em que foi publicado. O romantismo inscrevia-se como o movimento
literário em voga, favorecendo a criação de narrativas fundamentadas sobre
temas amenos: o amor "açucarado" com um ligeiro e suave suspense que termina
em páginas brandas e felizes para todos... e para sempre.
A Moreninha surge como um modelo exemplar desse estilo. A obra retrata os
costumes da alta sociedade carioca dos meados do século 19, onde as mulheres
tinham seus momentos de flerte nos saraus, bailes e óperas de teatro.
É nesse ambiente circundado pelas paisagens da Tijuca e pelas praias
cariocas (ainda desertas) que vemos se desenrolar a narrativa do
romance.
Resumo
O enredo inicia-se com três amigos e estudantes de Medicina, Augusto,
Fabrício e Leopoldo, sendo convidados por outro colega, Filipe, para passar
o dia de Sant'Ana na casa de praia de sua avó. (O mês de julho era
considerado o mês de Sant'Ana.)
Apenas Augusto hesita e se diz disposto a não ir. Mas, a presença da irmã,
Carolina - a Moreninha , e das primas de Filipe, Joana - a pálida, e
Joaquina - a loira, entre outros divertimentos, servem como incentivo, e
logo todos se põem prontos para a viagem.
Os amigos decidem ainda fazer uma aposta: se Augusto conseguisse
apaixonar-se por uma única jovem durante quinzes dias ou mais, visto que se
julgava incapaz para tanto, ele assumiria o compromisso de escrever um
romance relatando tal paixão.
O jovem evita cair nas graças das mulheres que encontra, desfazendo as
esperanças nele depositadas e mostrando-se leviano às investidas românticas.
Causando tanto mais medo do que mesmo infelicidade na imaginação das
senhoritas, Augusto passa a ser rejeitado nesse círculo.
Todavia, Carolina, a Moreninha, uma jovem de quinze anos, inteligente e
zombeteira, trará uma nova atmosfera à alma de Augusto. Tomado por
sentimentos perturbadores, o rapaz acaba confessando a D. Ana, avó da
menina, um segredo guardado há sete anos, no qual estava a explicação para a
sua personalidade obscura e instável. Passemos ao episódio.
Augusto tinha treze anos quando esteve na Corte e, durante um de seus
passeios pelas praias cariocas, conheceu uma linda menina, contando não mais
do que oito anos. Ela então observava uma concha à beira-mar, mas o ir e vir
das ondas impedia que ela avançasse sobre a areia para pegar o objeto de
seus caprichos.
Depois de tanto brincar com as vagas, até cair, a menina dirigiu-se a
Augusto mimosamente, lastimando não ter conseguido apanhar a concha.
Prontamente, ele se dispôs a trazê-la para a menina; foi assim que fizeram
amizade e viriam a passar longas horas de deliciosas brincadeiras
infantis.
Em meio às travessuras, a garotinha perguntou-lhe se desejava um dia
casar-se com ela. Embora aturdido, Augusto acabou por aceitar a ousada
proposta. A promessa fez com que seus nomes deixassem de ter importância, e
assim passaram a tratar-se por "meu marido" e "minha mulher".
Mas, a aproximação de um garoto aos prantos anunciando a morte do pai viria
quebrar o encanto do momento. Augusto e a menina foram conduzidos até uma
pequena casa, onde se achava um homem agonizante junto a sua família em
sofrimento. Pouco, ou nada, poderia ser feito.
Uma caridade realizada por Augusto e sua nova amiga fez o velho
abençoá-los, profetizando a união de ambos... deu-lhes, então, dois breves:
um branco, que levaria costurado um camafeu de Augusto, presenteado à
garota; e outro verde, cosido a um botãozinho de esmeralda da blusa da
menina, por sua vez oferecido a Augusto.
Pouco antes de o ancião expirar, os dois partiram. Despediram-se na praia,
mantendo o enigma de seus nomes, mas vivo o juramento de amor feito diante
do homem: o de um dia se encontrarem e serem felizes juntos. Assim, Augusto
termina a sua curiosa história. No entanto, além de D. Ana, os ouvidinhos
aguçados de Carolina também tinham acompanhado secretamente sua
narrativa.
Em outra conversa com a velha senhora, Augusto comenta sobre o malogro de
suas paixões: ele já tinha sido enganado por três jovens que escarneceram de
suas devoções afetivas. A primeira, uma moreninha, deixou-o esperançoso pelo
período de oito dias, finalmente casando-se com um velho.
A segunda, uma coradinha, mostrava-se ciumenta e possessiva, mas ria-se
dele pelas suas costas, enamorada de outro. A terceira, uma jovem pálida,
fazia-o acreditar ser o único em sua vida, mas enganava-o com um primo.
Tantas desilusões levaram-no a crer que a melhor saída era namoriscar todas
e não dar o coração a nenhuma.
O fim de semana termina e os jovens voltam à Corte. Augusto traz consigo
mais do que uma lembrança da agradável companhia dos amigos e de D. Ana; ele guarda um
sentimento profundo que irá rendê-lo à afabilidade de Carolina. Isso o
fará retornar a casa da jovem, e juntos descobrir se-ão amigos e
enamorados.
Após um breve período de distância entre os dois, o que os leva a uma
grande tristeza, Augusto corre ao encontro da amada. Porém, a Moreninha
repreende-o por trair o voto feito à garotinha que conhecera há sete anos e
ao homem em seu leito de morte. Augusto declara ser impossível reconhecê-la,
ou mesmo encontrá-la e, ainda que isso fosse possível, como ele poderia
negar o amor sincero que agora sentia por Carolina?
É o momento de desfazer-se o mistério: a jovem revela o breve que um dia
ganhara de um velho às vésperas de sua morte, e nele estava enrolado o
camafeu pertencente a Augusto. Comovidos, concluem que a espera e a busca
tinham chegado ao fim.
Também a aposta antes lançada pelos amigos estava ganha: Augusto escreveria
sua história, uma história de amor e final feliz, intitulada
A Moreninha.
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