segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Quando, Lidia - Fernando Pessoa


Quando, Lídia, vier o nosso outono 

Com o inverno que há nele, reservemos 

Um pensamento, não para a futura 

Primavera, que é de outrem, 

Nem para o estio, de quem somos mortos, 

Senão para o que fica do que passa 

O amarelo atual que as folhas vivem 

E as torna diferentes.

Um comentário:

Anônimo disse...

"Não tenhas nada nas mãos
Nem uma memória na alma,

Que quando te puserem
Nas mãos o óbolo último,

Ao abrirem-te as mãos
Nada te cairá.

Que trono te querem dar
Que Átropos to não tire?

Que louros que não fanem
Nos arbítrios de Minos?

Que horas que te não tornem
Da estatura da sombra

Que serás quando fores
Na noite e ao fim da estrada.

Colhe as flores mas larga-as,
Da mãos mal as olhaste.

Senta-te ao sol. Abdica
E sê rei de ti próprio."

Ricardo Reis