terça-feira, 26 de julho de 2011

Soneto 96 - William Shakespeare

De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça.

Amor não é amor
se quando encontra obstáculos se altera ou se vacila ao mínimo temor.

Amor é um marco eterno, dominante,
que encara a tempestade com bravura;
é astro que norteia a vela errante
cujo valor se ignora, lá na altura.

Amor não teme o tempo, muito embora
seu alfanje não poupe a mocidade;
amor não se transforma de hora em hora, antes se afirma, para a eternidade.

Se isto é falso, e que é falso alguém provou, eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.

Quadro de Bouguereau
Psyche et LAmour 1889 

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Ouvi contar que outrora - Fernando Pessoa

Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia tinha não sei qual guerra, quando a invasão ardia na cidade e as mulheres gritavam, dois jogadores de xadrez jogavam o seu jogo contínuo.

À sombra de ampla árvore fitavam o tabuleiro antigo, e, ao lado de cada um, esperando os seus momentos mais folgados, quando havia movido a pedra, e agora esperava o adversário.

Um púcaro com vinho refrescava sobriamente a sua sede.

Ardiam casas, saqueadas eram as arcas e as paredes, violadas, as mulheres eram postas contra os muros caídos, traspassadas de lanças, as crianças eram sangue nas ruas... mas onde estavam, perto da cidade, e longe do seu ruído, os jogadores de xadrez jogavam o jogo de xadrez.

Inda que nas mensagens do ermo vento lhes viessem os gritos, e, ao refletir, soubessem desde a alma que por certo as mulheres e as tenras filhas violadas eram nessa distância próxima, inda que, no momento que o pensavam, uma sombra ligeira lhes passasse na fronte alheada e vaga, breve seus olhos calmos volviam sua atenta confiança ao tabuleiro velho.

Quando o rei de marfim está em perigo, que importa a carne e o osso das irmãs e das mães e das crianças?
Quando a torre não cobre a retirada da rainha branca, o saque pouco importa.

E quando a mão confiada leva o xeque ao rei do adversário, pouco pesa na alma que lá longe estejam morrendo filhos.

Mesmo que, de repente, sobre o muro surja a sanhuda face dum guerreiro invasor, e breve deva em sangue ali cair o jogador solene de xadrez, o momento antes desse (É ainda dado ao cálculo dum lance pra a efeito horas depois) é ainda entregue ao jogo predileto dos grandes indif'rentes.

Caiam cidades, sofram povos, cesse a liberdade e a vida.

Os haveres tranqüilos e avitos ardem e que se arranquem, mas quando a guerra os jogos interrompa, esteja o rei sem xeque, e o de marfim peão mais avançado pronto a comprar a torre.

Meus irmãos em amarmos Epicuro e o entendermos mais de acordo com nós-próprios que com ele, aprendamos na história dos calmos jogadores de xadrez como passar a vida.

Tudo o que é sério pouco nos importe, o grave pouco pese, o natural impulso dos instintos que ceda ao inútil gozo (Sob a sombra tranqüila do arvoredo) de jogar um bom jogo.

O que levamos desta vida inútil tanto vale se é a glória, a fama, o amor, a ciência, a vida, como se fosse apenas a memória de um jogo bem jogado e uma partida ganha a um jogador melhor.

A glória pesa como um fardo rico, a fama como a febre,o amor cansa, porque é a sério e busca, a ciência nunca encontra,e a vida passa e dói porque o conhece... o jogo do xadrez prende a alma toda, mas, perdido, pouco pesa, pois não é nada.

Ah! sob as sombras que sem qu'rer nos amam, com um púcaro de vinho ao lado, e atentos só à inútil faina do jogo do xadrez mesmo que o jogo seja apenas sonho e não haja parceiro, imitemos os persas desta história,e, enquanto lá fora, ou perto ou longe, a guerra e a pátria e a vida chamam por nós, deixemos que em vão nos chamem, cada um de nós sob as sombras amigas sonhando, ele os parceiros, e o xadrez a sua indiferença.


A indiferença e os sonhos... em contraponto a vida real
Esse texto é muito atual e vale a pena refletir, sob o angulo de nossas vidas...

terça-feira, 12 de julho de 2011

Se a Cada Coisa - Fernando Pessoa

Se a cada coisa que há um Deus compete,

Por que não haverá de mim um Deus?

Por que o não serei eu?

É em mim que o Deus anima porque eu sinto.

O mundo externo claramente vejo coisas, homens, sem alma.

Fernando Pessoa

domingo, 10 de julho de 2011

Perdas e Danos

"Perdas e Danos" (Damage) é um filme INTENSO que mostra de forma genial toda a vida de uma família envolvida num drama de amor e paixão, além de nós dar passagens importantes, do tipo:

"Pessoas feridas são mais perigosas,
pois sabem que podem sobreviver".

A história trata de um respeitado membro do parlamento britânico que se apaixona pela nova namorada do filho. Na vida política, Stephen Fleming (Jeremy Irons) se alinha com os conservadores. Na vida pessoal também, como chefe de uma típica familia burguesa, bem casado com Ingrid e pai de um casal de filhos. Uma vida perfeita!

Na verdade a vida pessoal de Fleming tem um lado secreto, é o amor de Anna Barton (Juliette Binoche), uma mulher estranha que esta namorando seu filho Martyn .

Um dia, Martyn anuncia o casamento com Anna. Fleming procura romper com a amante, mas é surpreendido por um convidativo presente.

Jeremy Irons dá um show de interpretação, mas quem rouba a cena é mesmo a bela francesa Juliette Binoche . 


É, com certeza, um filme imperdível.

O Prince recomenda...
Damage (França/Reino Unido, 1992).

domingo, 3 de julho de 2011

Nem tudo é fácil - Cecília Meireles


É difícil fazer alguém feliz, assim como é fácil fazer triste. 

É difícil dizer eu te amo, assim como é fácil não dizer nada. 

É difícil valorizar um amor, assim como é fácil perdê-lo para sempre. 

É difícil agradecer pelo dia de hoje, assim como é fácil viver mais um dia. 

É difícil enxergar o que a vida traz de bom, assim como é fácil fechar os olhos e atravessar a rua. 

É difícil se convencer de que se é feliz, assim como é fácil achar que sempre falta algo. 

É difícil fazer alguém sorrir, assim como é fácil fazer chorar.

É difícil colocar-se no lugar de alguém, assim como é fácil olhar para o próprio umbigo. 

Se você errou, peça desculpas... 

É difícil pedir perdão? Mas quem disse que é fácil ser perdoado? 

Se alguém errou com você, perdoa-o... 

É difícil perdoar? Mas quem disse que é fácil se arrepender? 

Se você sente algo, diga... 

É difícil se abrir? Mas quem disse que é fácil encontrar alguém que queira escutar? 

Se alguém reclama de você, ouça... 

É difícil ouvir certas coisas? Mas quem disse que é fácil ouvir você? 

Se alguém te ama, ame-o... 

É difícil entregar-se? Mas quem disse que é fácil ser feliz? 

Nem tudo é fácil na vida...Mas, com certeza, nada é impossível ! 

Precisamos acreditar, ter fé e lutar para que não apenas sonhemos, Mas também tornemos todos esses desejos, realidade!!!


Cecília Meireles


Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre.
Cecília Meireles

Poesia tem tudo haver com o drama O grande Gatsby
Prince Cristal

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Aniversário de 123 anos do Fernando Pessoa

Se ainda vivesse, estaria completando hoje 123 anos!

Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13/06/1888 — 30/11/1935)
mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta e escritor português. É considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, e da Literatura Universal.

Parabéns Fernando Pessoa! 
sua obra é tão boa que não pôde ser de somente atribuída a um autor... 
Você foi vários.
E comemoro com a poesia do Ricardo Reis
que marca o Prince Cristal.


Vivem em nós inúmeros; 
Se penso ou sinto, ignoro 
Quem é que pensa ou sente. 
Sou somente o lugar 
Onde se sente ou pensa. 

Tenho mais almas que uma. 
Há mais eus do que eu mesmo. 
Existo todavia 
Indiferente a todos. 
Faço-os calar: eu falo. 

Os impulsos cruzados 
Do que sinto ou não sinto 
Disputam em quem sou. 
Ignoro-os. Nada ditam 
A quem me sei: eu 'screvo.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Porque me negas o que não te peço - Fernando Pessoa

A flor que és, não a que dás, eu quero.
Porque me negas o que te não peço. 
Tempo há para negares 
Depois de teres dado. 

Flor, sê-me flor! Se te colher avaro 
A mão da infausta esfinge, tu perene 
Sombra errarás absurda, 
Buscando o que não deste.

Fernando Pessoa
Como Ricardo Reis, em "Odes" em 21-10-1923
Pintura de Pierre Auguste Renoir - Summer [1868]

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Aniversário do Prince Cristal - 5 anos

Aniversário de 5 anos do PRINCE CRISTAL...

Posso ter defeitos, viver ansioso
e ficar irritado algumas vezes mas
não esqueço de que minha vida é a
maior empresa do mundo, e posso
evitar que ela vá à falência.

Ser feliz é reconhecer que vale
a pena viver apesar de todos os
desafios, incompreensões e períodos
de crise.

Ser feliz é deixar de ser vítima dos
problemas e se tornar um autor
da própria história. É atravessar
desertos fora de si, mas ser capaz de
encontrar um oásis no recôndito da
sua alma.

É agradecer a Deus a cada manhã
pelo milagre da vida.

Ser feliz é não ter medo dos próprios
sentimentos.

É saber falar de si mesmo.

É ter coragem para ouvir um "não".

É ter segurança para receber uma
crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?

Guardo todas, um dia vou construir
um castelo…

Poesia erradamente atribuída a Fernando Pessoa

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Cansa sentir quando se pensa - Fernando Pessoa

Cansa sentir quando se pensa.
No ar da noite a madrugar
Há uma solidão imensa
Que tem por corpo o frio do ar.

Neste momento insone e triste
Em que não sei quem hei de ser,
Pesa-me o informe real que existe
Na noite antes de amanhecer.

Tudo isto me parece tudo.
E é uma noite a ter um fim
Um negro astral silêncio surdo
E não poder viver assim.

(Tudo isto me parece tudo.
Mas noite, frio, negror sem fim,
Mundo mudo, silêncio mudo -
Ah, nada é isto, nada é assim!)

Fernando Pessoa

domingo, 8 de agosto de 2010

Mariposa - Prince Cristal

Uma luz na escuridão
mariposa em turbilhão.

Voou pra luz ... 
e girou na ilusão. 

Coitada da mariposa 
agora triste e acinzentada. 

Voou pra luz ... 
e morreu queimada.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Beijo - Prince Cristal


Beijo * Beijoca * Beijo de Saudade * Selinho * Smack * Muáááá * Estalinho * Beija eu * Beijo na mão * French Kiss * Beijo de esquimó * O beijo da mulher aranha * Beijo roubado * Beijinho * Beijo na boca * Beijo no coração * Beijo sonhado * Bitoquinha * Kiss me * Beijo de Príncipe Encantado * Beijo técnico * Beijo N'alma * Kiss the rain * Beijo de língua * Beijo de borboleta * Kiss from a rose * Nunca fui beijada * Beijo Sexy * Beijo escondido * Kiss the girl * Beijo carinhoso * Beijo jogado * Beija-flor * Beijo de boa-noite * Beijo de sapo * Beijo a três * Hold me, Thrill Me, Kiss me, Kill me * Beijo fraternal * Beijo a quatro * Beijo de Judas * Primeiro Beijo * Beijo tímido * Beijo, abraço, aperto de mão * Beijo de amor * Beijunda * Don't talk just kiss * Beijo de adeus * Beijo cinematográfico * Beijo de tesão * Dois beijinhos * Três, para casar * Pão, pão, beijo, beijo * The last kiss

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Sou - Prince Cristal


Sou o contraste entre

o material e o o espiritual,
o sensível e o rude,
o erótico e o o sensual,
a poesia e a realidade,
o cafajeste e o romântico...

Me procuro e não acho, pois ando nos dois mundos.

Estou no seu espelho e você está no meu.

Vivo em tempos diferentes da minha existência.


Aprecio o que foi, o que é e o que virá.


Hoje o Prince Cristal completa 4 anos!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Desencanto - Manuel Bandeira

Eu faço versos como quem chora
De desalento , de desencanto
Fecha meu livro se por agora
Não tens motivo algum de pranto.

Meu verso é sangue , volúpia ardente
Tristeza esparsa , remorso vão
Dói-me nas veias amargo e quente
Cai gota à gota do coração.

E nesses versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre
Deixando um acre sabor na boca
Eu faço versos como quem morre.

Qualquer forma de amor vale a pena!!
Qualquer forma de amor vale amar!!


Manuel Bandeira

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Um ano novo cochila dento de você - Carlos Drummond


Para você ganhar belíssimo Ano Novo cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido (mal vivido talvez ou sem sentido) para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior) novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, mas com ele se come,se passeia, se ama, se compreende, se trabalha, você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? passa telegramas?)

Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta.

Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumidas nem parvamente acreditar que por decreto de esperançam a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Imagem do cosmos que lembra o Yin-Yang e naturalmente o Prince Cristal

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Bela e o Dragão - Mario Quintana

As coisas que não têm nome assustam, escravizam-nos, devoram-nos...
Se a bela faz de ti gato e sapato, chama-lhe, por exemplo, A BELA DESDENHOSA.

E ei-la rotulada, classificada, exorcizada, simples marionete agora, com todos os gestos perfeitamente previsíveis, dentro do seu papel de boneca de pau.

E no dia em que chamares a um dragão de JOLI, o dragão te seguirá por toda parte como um cachorrinho...

Mario Quintana
Sapato Florido, 1948

sábado, 24 de outubro de 2009

Anjos ou Deuses - Fernando Pessoa

Anjos ou deuses, sempre nós tivemos,
a visão perturbada de que acima
de nós e compelindo-nos
agem outras presenças.

Como acima dos gados que há nos campos
O nosso esforço, que eles não compreendem,
Os coage e obriga
E eles não nos percebem,
Nossa vontade e o nosso pensamento
São as mãos pelas quais outros nos guiam
Para onde eles querem
E nós não desejamos.

Fernando Pessoa 
como Ricardo Reis

Sábio - Fernando Pessoa

Sábio é o que se contenta
com o espetáculo do mundo,
E ao beber nem recorda
Que já bebeu na vida,
Para quem tudo é novo
E imarcescível sempre.

Coroem-no pâmpanos,
ou heras, ou rosas volúteis,
Ele sabe que a vida
Passa por ele e tanto
Corta à flor como a ele
De Átropos a tesoura.

Mas ele sabe fazer
que a cor do vinho esconda isto,
Que o seu sabor orgíaco
Apague o gosto às horas,
Como a uma voz chorando
O passar das bacantes.

E ele espera, contente
quase e bebedor tranqüilo,
E apenas desejando
Num desejo mal tido
Que a abominável onda
O não molhe tão cedo.

Fernando Pessoa
como Ricardo Reis

terça-feira, 29 de setembro de 2009

A Flor do Sonho - Florbela Espanca


A Flor do Sonho, alvíssima, divina,
Miraculosamente abriu em mim,
Como se uma magnólia de cetim
Fosse florir num muro todo em ruína.

Pende em meu seio a haste branda e fina
E não posso entender como é que, enfim,
Essa tão rara flor abriu assim! …
Milagre… fantasia… ou, talvez, sina…

Ó flor que em mim nasceste sem abrolhos,
Que tem que sejam tristes os meus olhos
Se eles são tristes pelo amor de ti?!…

Desde que em mim nasceste em noite calma,
Voou ao longe a asa da minh’alma
E nunca, nunca mais eu me entendi…


Florbela Espanca

sábado, 26 de setembro de 2009

Chega de saudade - Vinicius de Moraes

Vai minha tristeza,
e diz a ela que sem ela não pode ser,
diz-lhe, numa prece
Que ela regresse,
porque eu não posso mais sofrer.
Chega, de saudade
a realidade, É que sem ela não há paz,
não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim,
não sai de mim,
não sai

Mas se ela voltar,
Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei
Na sua boca,
dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser milhões de abraços
Apertado assim,
colado assim,
calado assim
Abraços e beijinhos,
e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio
de você viver sem mim.

Não quero mais esse negócio
de você longe de mim...